segunda-feira, 9 de junho de 2008

D. Pedro I, a babá inglesa e o cambucá


Mas que relação podem ter os três personagens do título deste post? Será mais uma pegadinha no estilo “a tartaruga, o navio e a família”? Não, nada disso, como se verá a seguir!

Às vésperas da independência do Brasil, a inglesa Maria Dundas Graham já era uma escritora de sucesso, com cinco obras publicadas sobre suas experiências em terras estrangeiras, incluindo a Índia. Casada com o oficial da marinha britânica Thomas Graham, acompanhava o marido em uma viagem de navio em direção ao Chile. Antes que pudessem chegar ao continente, o comandante Graham foi acometido de uma trágica febre que o levou à morte. Maria, atordoada com a viuvez precoce, acabou vivendo entre os chilenos durante um ano.

Em 1823, decidiu voltar à sua amada Inglaterra, mas quis o destino que seu navio fizesse uma parada no Rio de Janeiro. Nesta oportunidade, foi apresentada ao jovem Imperador Pedro I e sua família. Ficou acertado que a escritora seria a preceptora da Princesa Maria da Glória, filha do monarca e da Imperatriz Leopoldina.

A babá inglesa permaneceu em nosso país até 1826, ensinando a futura Rainha de Portugal (D. Pedro abdicou ao trono lusitano em seu favor após a morte de D. João VI) e tornando-se íntima da Imperatriz, com quem dividia uma enorme paixão pelas Ciências Naturais.

Graham nos deixou um delicioso relato de suas experiências durante este período, com grande destaque para as coisas da Natureza (Graham, M. 1990 [tradução do original de 1824]. Diário de uma viagem ao Brasil. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia. 423 p.). Sobre as frutas nativas da Mata Atlântica, anotou o seguinte: “(…) Jardim Botânico [do Rio de Janeiro], que parece estar em estado de conservação muito melhor do que quando o vi há dois anos. (…) Fiquei contente por ver muitas das plantas indígenas que haviam sido plantadas aqui: o cambucá, cujo fruto, tão grande como uma maçã russet, tem o gosto sub-ácido de groselha, com a qual sua polpa tem uma forte semelhança; a japatee-caba [jabuticaba], cujo fruto é um pouco inferior ao damasco (…)”. Aliás, a governanta dos filhos de D. Pedro I parece mesmo ter preferido o cambucá à jabuticaba, conforme escreveu acerca daquele fruto no dia 6 de agosto [de 1823]: “(…) juntei-me a um alegre grupo num passeio a cavalo a Copacabana, pequena fortaleza que defende uma das pequenas baías atrás da praia Vermelha e de onde se podem ver algumas das mais belas vistas daqui. As matas das vizinhanças são belíssimas e produzem grande quantidade de excelente fruta chamada cambucá (,,,)”.

Mas que frutos são esses, por muitos tidos como os mais saborosos da grandiosa Floresta Atlântica, tão comuns no Rio de Janeiro do início do século XX? Porque não são mais quase vistos hoje em dia? Será que são bons mesmo?

As respostas ficam para o próximo post, mas por enquanto o nobre cambucá acaba de ganhar dois novos súditos: o ativo observador de pássaros (e apaixonado por plantas) Haroldo Júnior e sua esposa, que tiveram o prazer de degustá-lo no E-jardim durante o último final-de-semana.

(fotos e texto informativo sobre o cambucá: http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=71)

2 comentários:

Haroldo Junior disse...

Ola meu amigo, mais uma vez parabéns pelo lindo e informativo blog. Realmente o cambucá é uma delicia, e com certeza essa fruta ganhou mais dois adeptos, eu e minha esposa Carla que também adorou.

Um grande abraço,

Haroldo Junior
http://www.flogs.com.br/haaj

Eduardo Jardim disse...

Olá Haroldo!
No próximo post falaremos mais um pouco sobre o cambucá, talvez incluindo alguma receita!
Um grande abraço para vcs também!