quinta-feira, 23 de julho de 2009

A popstar de Cachoeiro do Itapemirim

Aechmea orlandiana, espetacular espécie de bromélia descoberta pelo casal Foster no Espírito Santo
O longínquo ano de 1941 foi extremamente generoso com a cidade de Cachoeiro do Itapemirim/ES. Presenteou-lhe com duas estrelas, uma na música e outra na botânica.
Em 19 de abril nascia o mais ilustre cidadão itapemirimense, o rei Roberto Carlos, cantor brasileiro que mais discos vendeu no planeta. Sua carreira, que atingiu o estrelato, acaba de completar 50 anos, comemorados com uma série de shows pelo país.
Naquele mesmo ano, o Dr. Lyman Smith, então a maior autoridade mundial na família Bromeliaceae, publicava a descrição de Aechmea orlandiana, a linda espécie acima que ilustra estas linhas. [Smith, L.B. 1941. Bromeliáceas novas ou interessantes do Brasil. Arq. Bot. Est. São Paulo, 1(3): 53-60, tábs. 64-80].

A coluna de hoje é dedicada aos 70 anos da descoberta de uma das mais belas e populares espécies do gênero Aechmea que existem.
No post do dia 24/07/09, contei um pouco da incrível trajetória de Mulford e Racine Foster, a dupla que popularizou as bromélias na horticultura moderna. Também escrevi que coletaram várias plantas interessantes nos arredores do berço natal de Roberto Carlos.
Pois foi precisamente no dia 8 de junho de 1939 que aconteceu o seguinte fato, descrito no obra "Brazil, orchid of the tropics" (a tradução é nossa): "O grande acontecimento do dia, entretanto, foi a descoberta de uma das mais espetaculares Aechmeas já vistas, cujas folhas eram mosqueadas e pregueadas com um efeito em relevo de manchas escuras sobre um fundo verde-claro. Depois de abrir caminho através de um denso emaranhado de arbustos, Mulford finalmente atingiu um afloramento de rocha praticamente nua, quando subitamente gritou com todas suas forças. A alegria de uma conquista muito ajuda quando a exaustão parece predominar. Neste ponto, nós olhávamos para a penca de bromélias que aqueceria o coração de qualquer pessoa apaixonada por plantas. Mulford não as tocaria até que Racine e nosso ajudante local tivessem chegado ao "ponto sagrado". Esse homem, que havia passado toda sua vida na região e conhecia bem o campo, nunca havia visto uma planta tão formidável. Colhemos poucos exemplares, tomando o cuidado de deixar uma boa quantidade lá. Então passamos a vasculhar as redondezas atrás de outros indivíduos que pudessem apresentar flores ou frutos. Contudo, não logramos sucesso, muito embora esta Aechmea fosse florescer em cultivo um mês depois. Brácteas alaranjadas e flores brancas, que combinação de cores! As cores da cidade que adotamos, Orlando, na Flórida. Sete meses mais tarde, depois de muitos estudos, o Dr. Lyman Smith se assegurou de que se tratava de uma espécie absolutamente inédita, ficando tão entusiasmado quanto nós, muito embora jamais tivesse visto a planta viva".
A partir destes exemplares, a conterrânea do rei foi multiplicada inicialmente pelos Fosters e depois por aficcionados em plantas ornamentais no mundo inteiro. Nestes quase 70 anos de cultivo, foram tantas emoções...
Mais informações em:

sábado, 11 de julho de 2009

Gol de placa


Neoregelia ZICO, híbrido de cores rubro-negras, criado pelo cultivador Rafael Faria em homenagem a Arthur Antunes Coimbra, ídolo maior da Nação Rubro-Negra.

A expressão "gol de placa" surgiu em decorrência de um belo tento assinalado por Pelé em um jogo contra o Fluminense no início da década de 1960. Na oportunidade, o atacante santista arrancou do meio-de-campo, driblando diversos atletas tricolores antes de marcar o gol. Um jovem jornalista da época, de tão empolgado com a plasticidade da jogada, mandou confeccionar uma placa imortalizando o feito. Daí em diante, a expressão passou a definir aqueles golaços que fazem a torcida vibrar.

Pois foi com um toque de gênio que o flamenguista Rafael batizou de "Zico" o híbrido de Neoregelia oriundo de um de seus cruzamentos experimentais. A planta desenvolveu uma incomum coloração vermelho e preta nas lâminas foliares (veja a foto que ilustra este texto).
Divulgada no dia 25 de junho pelo jornal carioca "O Globo", a notícia logo se espalhou, causando furor no noticiário esportivo. Inúmeras pessoas, normalmente alheias à horticultura e ao mundo das plantas, logo tiveram seu interesse desperto.

Gol de placa de Rafael.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

El mamey colorado!

Popol Vuh é o livro sagrado da civilização maia. Algo como a Bíblia daquela outrora florescente cultura centro-americana. Entre outras assertivas, traz a de que as sapotas (tzapotl) são frutas tão antigas quanto a criação do homem.

Sapotas eram também os pomos que deliciavam os grandes senhores maias, antes da chegada dos conquistadores espanhóis. Aplicavam, de uma maneira geral, o termo a diversos frutos carnosos e doces que cresciam em seus domínios.

Entre estes, sobressaía o delicioso mamei ou sapota-mamei ("mamey colorado" ou "mamey zapote" em espanhol). Por muitos considerado a verdadeira "sapota dos maias", será o tema de nosso post de hoje.

Aliás, contam os historiadores que foram mameis que salvaram o exército espanhol de inanição, quando em campanha de conquista das terras meso-americanas.

Sua casca marrom e áspera como couro cru, de pequena espessura, encerra uma polpa cremosa e macia, de linda tonalidade vermelho-róseo-salmão. Em seu interior, há único caroço, escuro e muito brilhante, contrastando fortemente com o tom da carne, conforme mostra a imagem que acompanha estas linhas.
Esta semente também é muito valorizada, pois torrada e moída é misturada a chocolate, açúcar e canela, em uma bebida conhecida como "pozol" em Oaxaca, no México. Na Nicarágua prepara-se outra denominada "pinolillo", de grande popularidade e formulação similar.
Degustar um mamei é uma experiência única. Cortado ao meio e comido às colheradas, deixa a boca repleta de uma doçura persistente. Algumas pessoas gostam de equilibrar com algumas gotas de limão, como se faz com o mamão-papaia e o abacate. Já outros preferem reservar a iguaria para o preparo de requintadas sobremesas (há muitas receitas!). Não importa, um apreciador de frutas não pode deixar de experimentar uma sapota-mamei...

No Brasil, esta fruta foi introduzida em 1985, por iniciativa do pesquisador Luiz Carlos Donadio [Donadio, L. C. et al. 1998. Frutas Exóticas. Jaboticabal, Funep. 279 p.], que através de um convênio entre a FCAV-UNESP e o Cenargen-Embrapa importou matrizes da Flórida. Adaptou-se muito bem a uma vasta diversidade de climas tupiniquins, desde os tropicais até os subtropicais, como São Paulo e alhures.
E em seu pomar, já há um mameizeiro crescendo?
Mais informações e mudas disponíveis em: