domingo, 25 de agosto de 2013

Bagas de ouro

 
Baccaurea ramiflora, sensacional fruta vietnamita descoberta por um jesuíta português no século XVIII
Portugal foi o primeiro país europeu a erguer um império colonial moderno, espalhado por cinco continentes. Neste vasto território, eram cultivadas deliciosas frutas tropicais, algumas das quais foram transplantadas com sucesso para os domínios lusitanos na América. A jaca (Artocarpus heterophyllus) e a manga (Mangifera indica) da Índia, o jambo-roxo (Syzygium malaccense) e a carambola (Averrhoa carambola) de Malaca (atualmente um estado da Malásia), a fruta-pão (Artocarpus altilis) da Micronésia, a laranja (Citrus sinensis) e a lichia (Litchi chinensis) da China são apenas alguns destes exemplos. Entretanto, várias preciosidades se perderam no decorrer dos séculos, ou permanecem ainda desconhecidas no Brasil. Nosso post de hoje aborda uma delas.

O mundo deve ao Padre João de Loureiro (1710-1791), missionário jesuíta, médico e botânico por vocação, a descrição científica da curiosa planta que ilustra este texto. Loureiro serviu em Goa na Índia por três anos e em Macau na China por quatro. Seu destino seguinte foi a Cochinchina, correspondente à região sul da atual República do Vietnã, onde permaneceu por 35 anos. Pesquisou intensamente as espécies silvestres e as cultivadas na área, herborizando milhares de amostras botânicas (exsicatas). Em 1778, ao retornar a Lisboa, iniciou a preparação de uma monumental obra chamada "Flora Cochinchinensis", que foi finalmente publicada doze anos mais tarde.

Foi neste trabalho, precisamente às páginas 641 e 661, que o autor criou o epíteto Baccaurea, cujo significado explicou ser "baccâ aurei coloris" (baga cor de ouro). O adjetivo faz jus à bela coloração externa dos frutos maduros, conforme pode ser visto nas fotos. Loureiro ainda acrescentou a informação de que a primeira espécie por ele descrita, B. ramiflora, era vista com frequência em pomares cochinchinenses.

Há cerca de 20 dias, tive um primeiro contato com as tais "bagas de ouro", também chamadas de mafai, tampoi ou uva-birmanesa. O mafaizeiro é uma árvore de porte médio, dioica (isto é, com flores masculinas e femininas em indivíduos distintos), de frutificação muito abundante. Os frutos medem cerca de 3-4 cm de diâmetro, e podem ser ovalados ou quase esféricos. Apresentam-se dispostos em longos racemos pendentes, formando um atraente conjunto. A casca é fina, dourada, e se rompe facilmente quando pressionada entre os dedos. A polpa é branca (por vezes rosada em algumas cultivares) e suculenta, de sabor agridoce e textura muito agradáveis. As sementes são pouco numerosas e achatadas como um pequeno disco. Realmente seu sabor lembra o de certas castas de uva (Vitis vinifera), justificando uma de suas designações vulgares. São muito apreciados pelas pessoas, e comercializados em feiras-livres em diversas partes do mundo tropical.

Frutos recém-colhidos, e prontos para a comercialização



















Mais informações e mudas em: 


Forte abraço!

domingo, 9 de junho de 2013

Acelerando o crescimento das plantas

Hoje nosso espaço é dedicado a uma preocupação  que aflige grande parte dos cultivadores de plantas...

O mundo atual orbita ao redor da urgência em se viver. Todos querem aproveitar a vida ao máximo, e se dias já são preciosos, o que se dirá de anos? Foi pensando nisto que nós, da equipe do E-jardim (www.e-jardim.com), desenvolvemos uma linha de árvores e palmeiras especiais, com idade entre 3 e 4 anos, em vasos de 10 litros e altura entre um e dois metros. Tudo isso em uma embalagem prática, moderna e eficiente, contendo duas plantas, o que possibilita um frete rodoviário extremamente competitivo.
Para melhor compreensão, vejam as fotos que acompanham estas linhas.

Zamia roezlii (à direita) e palmeiras diversas
Ao adqurir suas mudas nesse estágio (ao invés de nossos habituais tubetes de 19 cm x 6 cm), haverá um ganho precioso não somente em tempo, como também em qualidade, pois o crescimento é realizado em substrato altamente nutritivo e balanceado, suprindo todas as carências da planta. O resultado é uma jovem árvore bem desenvolvida e muito robusta.

Duas visões de uma de nossas estufas





Por preços individuais a partir de 80 reais, e fretes unitários que variam em torno de 15 reais, é possível desfrutar de todos este benefícios! Nossa malha de distribuição rodoviária abrange a maioria das cidades nas Regiões Sudeste e Sul, e algumas nas Regiões Nordeste e Centro-Oeste.
Outro aspecto positivo a ser destacado é que, neste porte,  muitas mudas já florescem e frutificam. As imagens a seguir testemunham este enorme benefício.

Cajá-manga-anão-precoce, com frutos

Gondo (Stylogyne longifolia) florescendo nos vasos














Mais informações através de nosso e-mail de contato: contato@e-jardim.com

Um abraço a todos,
E-jardim

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O fascinante cacau-jacaré e o pai da etnobotânica

Herrania mariae (cacau-jacaré) em plena floração foi escolhida como capa do Guia Botânico do Museu Goeldi (Belém-PA)
Logo que tive em mãos um exemplar do catálogo das plantas cultivadas no Museu Goeldi (Belém-PA) [Cavalcante, P.B. 1979. Guia Botânico do Museu Goeldi. Belém, MPEG Ed. 64 p.], fiquei fascinado pela plasticidade da imagem que ilustra a capa. Fotografado por Augusto Jarthes, o deslumbrante exemplar de Herrania mariae (conhecido popularmente como cacau-jacaré) chamava a atenção de qualquer pessoa. A pergunta não calava: como uma planta cauliflora, dotada de flores tão formosas e coloridas, e com um fruto de formato único e ainda por cima delicioso, poderia ser um completo desconhecido do público brasileiro? Estávamos no final dos anos 1990, iniciando o sítio E-jardim, e começava ali a trajetória contada no post de hoje...

Todavia, precisamos voltar cerca de 60 anos no tempo, precisamente ao ano de 1941, em plena Segunda Guerra Mundial. Então com apenas 26 anos de idade, o botânico americano Richard Evans Schultes iniciava sua primeira de muitas viagens à Amazônia. Ele tornar-se-ia mundialmente famoso por seus estudos sobre o uso de plantas silvestres, principalmente alucinógenas, por populações indígenas. Seu livro mais famoso [Schultes, R.E. & A. Hofmann. 1979. The Plants of the Gods: their Sacred, Healing and Hallucinogenic Powers. New York, McGraw-Hill. 192 p.] se tornou um best-seller mundial, sendo repetidamente reeditado até os dias de hoje. Schultes é reconhecido como o "pai da etnobotânica", a ciência que estuda a aplicação dos conhecimentos botânicos de um determinado povo.

Na época da Grande Guerra, os EUA procuravam desesperadamente uma alternativa para a dependência das plantações de borracha no Sudeste Asiático, pois estas encontravam-se sob controle do inimigo japonês. As tentativas de estabelecer lavouras nas Américas Central e do Sul, notadamente no Brasil onde foi criada a "Fordlândia", haviam resultado em retumbante fracasso. Desta forma, o jovem Schultes, pesquisador da Universidade de Harvard, foi enviado às selvas amazônicas para reunir sementes de serigueiras (Hevea spp.) resistentes às pragas.

Foi justamente no decorrer desta jornada que o americano teve seu primeiro contato com uma espécie não-descrita de Herrania na Colômbia. Foi paixão à primeira vista, que foi crescendo conforme Richard se engajava em coletas cada vez mais frequentes na hileia sul-americana. O contato com espécimens vivos, ao invés de unicamente com os exemplares desidratados dos herbários, culminou em amor verdadeiro com a publicação do mais completo estudo sobre estas plantas conhecido até hoje [Schultes, R.E. 1958. A synopsis of the genus Herrania. Journal of the Arnold Arboretum, 39(3): 216-278].

No próximo post, detalharemos as diferentes espécies de cacau-jacaré e seu cultivo.

Até breve!