quinta-feira, 26 de junho de 2008

Frutíferas em vasos (3) - as fabulosas mirtáceas

Entre as mais espetaculares frutíferas indicadas para vasos estão as mirtáceas. São verdadeiras dádivas da Natureza, sonho de qualquer apreciador de frutas silvestres, principalmente as nativas de nossa pátria.

Excluindo as originárias do Cerrado e o gênero Psidium (araçás e goiabas), são todas plantas que adoram umidade. Um conhecido nosso, em alusão aos termos anglófonos alcoholic (alcoólatra) e workaholic (viciado em trabalho), criou o neologismo wateraholic (viciadas em água) para designá-las. Portanto, meus amigos, mantenham o substrato de suas mirtáceas com um bom teor de umidade, mas sem encharcamento (o que elas definitivamente não gostam).

A seguir, enumero alguns dos melhores vegetais desta família para cultivo em recipientes de 30 a 50 litros:

- araçás: incluem basicamente todas as espécies do gênero Psidium (menos a goiaba). Indico o aracá-pêra (Psidium acutangulum) que já foi tema de três posts neste blog, o araçá-jamelão (Psidium sp., veja-o em nosso site www.e-jardim.com), o popular araçá-morango (Psidium cattleianum) e o araçá-ovelha (Psidium oligospermum), arvoreta nativa da Região Nordeste, e que produz frutos amarelos e muito doces. Ótimo também é o Psidium oblongatum, um quase desconhecido araçazeiro da Mata Atlântica que produz frutos enormes, semelhantes ao araçá-pêra.

- cabeluda (Myrciaria glazioviana): arbusto muito decorativo, produtor de frutos amarelos e pilosos, assemelhados a uma jabuticaba. O sabor é muito doce e agradável. Frutifica em pouco tempo após o plantio. No E-jardim produzimos mudas de uma variedade de frutos grandes (3,0 cm), conhecida como “cabeludão”.

- dentre as mais de 20 formas ou espécies de jabuticabeiras, recomendo quatro como ideais para vasos: a branca (Myrciaria aureana), a precoce ou híbrida (M. x cauliflora), a capirinha (forma arbustiva de M. jaboticaba) e a anã-do-cerrado (Myrciaria ou Plinia nana). Em nosso site apresentamos fotos e informações sobre o quarteto.

- eugênias nativas do Cerrado: a pêra-do-campo (E. klotzschiana), a pitanga-do-cerrado (E. pitanga), a cerrejeira-de-folhas-finíssimas (E. angustissima) são ótimas para vasos, desde que o substrato seja muito bem drenado, e se evite irrigá-las durante os meses mais frios. A cagaita (E. dysenterica) é uma árvore maior, e deve ser acondicionada em recipientes a partir de 60 litros.

- eugênias: um grupo bastante diverso, que já foi objeto de post anterior. São tantas as indicadas, que fica difícil não esquecer de alguma. Tentemos: araçá-boi ou rainha-das-eugênias (Eugenia stipitata), pitanga (E. uniflora), pitanga-negra-selvagem (E. sulcata), grumixama-anã (E. itaguahiensis), pitomba-da-baía (E. luschnathiana) [apresentada na foto que ilustra este post], pitangatuba (E. neonitida) [na minha opinião a melhor para o entorno de piscinas], uvaia (E. pyriformis), princesinha-de-copacabana (E. copacabanensis), cambucá-preto (E. macrosperma), pitanguinha-de-mattos (E. mattosii), cereja-do-cerrado (E. punicifolia), cereja-da-austrália (E. reinwardtiana), cereja-da-várzea (forma arbustiva de E. involucrata), etc.

- feijoa (Acca sellowiana): pequena árvore muito ornamental, seja pelas folhas com textura de cartolina (cartáceas), prateadas no verso, seja pelas lindas flores (comestíveis e bem doces!) de pétalas brancas e estames carmesins. Os frutos parecem uma goiaba, só que de sabor infinitamente superior, muito mais suculento e com fortes aromas de abacaxi. Produzimos mudas da cultivar “Helena”, de grandes dimensões (240 g) e de excepcional sabor. Desenvolve-se melhor em climas mais frios.

- goiaba (Psidium guajava): recomendamos a goiaba-roxa (veja detalhes em nosso site).

- jambo-branco (Syzygium aqueum): contrariamente ao jambo-vermelho (Syzygium malaccense), possui pequeno porte, e por esta razão o indicamos.

Forte abraço e bom cultivo!

sábado, 21 de junho de 2008

Frutíferas em vasos (2) - as mais indicadas

No texto anterior, prometi discutir as árvores frutíferas mais adaptáveis para o cultivo em vasos.

Apresento a seguir uma listinha comentada:

- acerola (Malpighia emarginata): muito conhecida em todo o país, apresenta crescimento rápido e produção precoce. Ótima resistência a períodos de seca, o que pode ocorrer por esquecimento. Destacamos as cultivares “Manoa Sweet” (frutos doces), “Cabocla” (fruto grande e em formato de maçã) e “Amarela” (frutos amarelos, cor bastante rara para uma acerola). Não aconselho plantar sementes, pois podem ocorrer variações indesejáveis, além de demorar muito a produzir.

- bacuripari-anão (Garcinia brasiliensis): arvoreta que produz frutos redondos, amarelo-alaranjados (2,5-3 cm) com agradável sabor agridoce, muito adaptável a diversos tipos de clima (veja os frutos na foto que ilustra este post). É a menor das Garcinia, gênero que engloba excelentes frutas como os celebrados mangostão (G. mangostana) e achachairu (G. laterifolia).

- cajá-manga-anão (Spondias dulcis var.): o conhecido cajá-manga é uma árvore de grande porte, mas existe uma variedade de dimensões reduzidas, que frutifica em vasos, a qual vem sendo multiplicada pelo E-jardim. Foi exibida na imagem que acompanhou o post passado.

- citros (Citrus spp. e Fortunella spp.): várias espécies possuem porte e frutos de tamanho pequeno, sendo portanto altamente recomendáveis. A lima-de-cafir (Citrus hystrix) é muito valorizada por suas folhas deliciosamente aromáticas que condimentam pratos da culinária tailandesa. O calamondim (Citrus mitis) é muito decorativo por produzir lindas laranjinhas de 4,5 cm, usadas no preparo de vários doces e geléias. Igualmente ornamentais são os kumquats ou kinkans (Fortunella spp.), excelentes para consumo ao natural ou sob a forma de compotas.

- fruta-do-milagre (Synsepalum dulcificum): baga de pequenas dimensões, vermelha e dotada do poder de bloquear as papilas gustativas receptoras do sabor ácido. Durante cerca de uma hora, todos os sabores ácidos ingeridos em seguida tornam-se “milagrosamente” doces.

- groselha-híbrida (Dovyalis abyssinica x D. hebecarpa): arvoreta muito adaptável e resistente a extremos de temperatura, de produção precoce. Seus frutos (2,5 cm de diâmetro) são aveludados e acidulados, ótimos para o preparo de sucos e geléias.

- mirtilo-tropical ou azaléa-de-cingapura (Melastoma malabathricum): arbusto do Sudeste Asiático e parente de nossas quaresmeiras (Tibouchina spp.). Produz frutinhos semelhantes no aspecto e sabor aos afamados blue berries.

- murici-da-amazônia (Byrsonima crassifolia): um fruto agridoce, amarelo e muito aromático, cujo refresco ou picolé lembram o gosto do doce conhecido como queijadinha. A arvoreta é muito decorativa.

- palmeiras como o guriri (Allagoptera arenaria), o saboroso coco-chiclete (Syagrus vagans) cuja polpa se destaca facilmente do caraço e o famoso butiá-da-praia (Butia odorata) são ideais para vasos grandes, com iluminação solar direta.

- vampi (Clausena lansium): da mesma família (Rutaceae) que os citros, produz lindos cachos de frutos esféricos ou ovalados, de fina casca marrom, que se destaca facilmente de polpa translúcida, muito suculenta. Existem variedades agridoces ou sem acidez (como a laranja-lima).

Ficaram faltando as fabulosas mirtáceas. A relação é imensa (araçás, eugênias, goiabas, jabuticabas, etc.), por isso tratarei delas em um post exclusivo.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Frutíferas em vasos (1) - introdução

Diversas pessoas me perguntam se é viável manter espécies frutíferas em vasos. Respondo que não somente é possível, como também muito divertido e saboroso! De fato, a população brasileira se aglomera cada vez mais nas grandes cidades, mas nem por isso diminui a vontade de estar em contato com a Natureza. Pelo contrário, existe quase uma necessidade de trazer um pedacinho dela para dentro de casa. Nada mais lógico que cultivar plantas em espaços reduzidos, inclusive aquelas que produzem frutos comestíveis!

A lista é enorme, como se verá a seguir. As finalidades, as mais diversas. Ornamentar quintais, varandas e entornos de piscinas. Encher de cores e aromas nossas vidas. Atrair pequenos pássaros frugívoros, fazer a alegria da criançada e até dos marmanjos. Mas como fazê-lo de maneira adequada?

Há algumas regras gerais, que devem ser seguidas para todas frutíferas. Outras mais específicas dizem respeito a diferentes exigências de substrato, drenagem e iluminação. Vamos por partes.

Para plantas menores, que atingem um metro ou menos de altura, vasos de cerca de 30 litros são suficientes. Árvores médias, que atingem aproximadamente dois metros, adaptam-se bem a recipientes entre 40 e 50 litros. Este é o caso do cajá-manga-anão (Spondias dulcis) ilustrado logo acima. Para variedades maiores, como a lichieira (produzida por alporquia), eu recomendo vasilhames a partir de 60 litros.

De fundamental importância é um substrato com boa textura e bem adubado. Sugiro a fórmula apresentada em nosso site (www.e-jardim.com), no link “dicas para cultivo”. Além disso, o fundo do vaso deve conter uma pequena camada de pedra britada envolta em geotêxtil (existem várias marcas no mercado), para melhorar a drenagem. Frutíferas anãs nativas do Cerrado (pêra-do-campo, fruta-de-tatu, guabiroba-do-campo, mama-cadela, pitanga-do-cerrado, jabuticaba-anã, etc.) exigem um cuidado adicional: pouquíssimas regas no inverno, pois não toleram a combinação baixas temperaturas + umidade nas raízes.

Há que se cuidar da nutrição com bastante zelo, pois em espaço limitado os nutrientes esgotam-se com maior rapidez. Uma excelente opção é a aplicação de adubos de liberação controlada (como o Osmocote®), que vai desprendendo lentamente os nutrientes, dentro de seu prazo de validade (de três a nove meses). Fertilizantes de aplicação foliar também podem ser de grande utilidade. De uma maneira geral, plantas com deficiências nutricionais apresentam sintomas bem evidentes, como regiões amareladas nas folhas (para maiores detalhes, entre na Comunidade “Nutrição Mineral de Plantas” do Orkut [http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=13399366] e tire suas dúvidas). Por último, cubra a superfície do substrato com uma pequena camada de aparas de madeira (fáceis de serem obtidas em serrarias) ou casca de pinus, para conservar a umidade.

Outro cuidado fundamental é o controle de pragas e doenças como fungos, cochonilhas e insetos que atacam as folhas. Faça inspeções regulares para certificar-se de que tudo vai bem.

Devemos observar as necessidades individuais de luminosidade para cada frutífera. Mesmo as que necessitam de sol pleno, devem ser lentamente adaptadas a uma maior exposição solar a partir de seu plantio. Explico esta transição em nosso site, também no link “dicas para cultivo”. Internautas com dúvidas, podem nos consultar diretamente.

Finalmente, indico uma poda de raízes a cada quatro ou cinco anos, em média, obviamente variando de acordo com o vigor de crescimento. O controle da parte aérea também pode ser feito, para limitar a altura ou eliminar ramos indesejáveis.

No próximo post, discutirei uma lista com as melhores frutíferas para vasos.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Porque o cambucá desapareceu?

Encerrei o post anterior divagando sobre o desaparecimento do cambucá da cena carioca, além de suas qualidades gastronômicas.

Façamos uma viagem no tempo. Desde os passeios de Lady Maria Graham a cavalo pelas matas de Copacabana no início dos anos 1800 até o primeiro quarto do século XX. Por mais de uma centena de anos, nossa simpática mirtácea foi figurinha fácil nas terras fluminenses. Como nos informou Manuel Pio Corrêa, grande divulgador das plantas nativas, em seu famoso tratado (Pio Corrêa, M. 1926 Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. vol. I. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional. 747p.): “os frutos encerram abundante polpa adocicada e refrigerante, comestível crua e da qual faz-se doce e compotas; na época própria é um dos frutos mais comuns nos mercados do Rio de Janeiro”.

Ora, nos dias de hoje contam-se nos dedos os cariocas que possuem alguma intimidade com nossa escolhida. Mas perguntem a pessoas com mais de 70 anos, especialmente aquelas que se cansaram de chupar fruta no pé. Quase todas responderão com um saudoso sorriso nos lábios: “ah, os doces cambucás...”.

O cambucazeiro é uma árvore média, em geral de 3-4 metros quando cultivada. O formato da copa é muito parecido com o da jabuticabeira (sua parente próxima), com numerosas ramificações a partir do tronco. Suas folhas, contudo, são bem maiores e ligeiramente aveludadas na face inferior. O tronco, que descama com facilidade, pode ser esbranquiçado ou avermelhado, conforme a variedade.

Os frutos é que dão grande destaque a esta planta. Eles se parecem com enormes jabuticabas (medem cerca de 4-6 cm de diâmetro, mas algumas formas podem atingir mais de 7 cm) e, como as últimas, nascem agarradinhos no tronco e galhos mais finos. Iniciam a maturação com uma coloração amarelo-clara, atingindo o auge na cor amarelo-canário, aquela tonalidade da camisa da seleção brasileira de futebol. Quando isto ocorre, a espessura da casca (grossa a princípio) se reduz dramaticamente, tornando-se quase uma “pele” delgada envolvendo uma polpa alaranjada e muito perfumada, cuja consistência lembra a de um pêssego ou damasco. Neste ponto, o ideal é usar uma faca para cortar o cambucá em duas metades e comê-lo às colheradas. Há quem prefira tascar o dente na fruta, e chupá-la como uma jabuticaba. Não importa, o primeiro encontro é sempre uma experiência inesquecível.

Mas onde estão os cambucazeiros nativos? A imensa maioria foi derrubada, assim como foi a floresta que nos cercava. Os cultivados, que alegravam chácaras e quintais, deram lugar a prédios e outras “modernidades”. Para que se tenha uma idéia, basta dizer que durante a construção da rodovia Rio-Teresópolis, as turmas de trabalhadores abatiam centenários (e enormes) cambucazeiros apenas para mais facilmente colherem seus refrescantes frutos! E, assim, as gerações seguintes perderam a referência deste presente que a Mata Atlântica nos deu... Ainda nos dias de hoje, vejo grandes exemplares abandonados adoecendo ou sendo suprimidos em antigos sítios na baixada de Jacarepaguá e arredores, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Finalizo a coluna de hoje com uma receita que aprendi com o mestre Antonio Morschbacker, grande entusiasta e autor de um primoroso artigo sobre a fruta (leiam-no em: http://paginas.terra.com.br/educacao/FrutasNativas/Cambuca.htm).

Compota de cambucá

- 2 litros de cambucás “de vez” (não usar frutos muito maduros porque estes se desfazem durante o cozimento)
- 2 litros de água
- 1 kg de açúcar (pode-se variar esta dosagem conforme se deseje maior ou menor toque de acidez)

Descasque os frutos, cortando-os em metades e retirando os caroços. Coloque-os em um recipiente com água e algumas gotinhas de limão para que não oxidem. Enquanto isso, prepare uma calda em uma panela, com os 2 litros de água e o açúcar. Leve ao fogo até ferver, mexendo bem para que o açúcar se dissolva completamente. A seguir, adicione os frutos previamente preparados, cozinhando-os na calda até que fiquem macios. Colocar em vidros, esperar esfriar e levar à geladeira. Depois é só se deliciar com uma sobremesa que encantou os franceses.

Agradecimento: a Antonio Morschbacker, pela receita e pela bela foto que ilustra este post.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

D. Pedro I, a babá inglesa e o cambucá


Mas que relação podem ter os três personagens do título deste post? Será mais uma pegadinha no estilo “a tartaruga, o navio e a família”? Não, nada disso, como se verá a seguir!

Às vésperas da independência do Brasil, a inglesa Maria Dundas Graham já era uma escritora de sucesso, com cinco obras publicadas sobre suas experiências em terras estrangeiras, incluindo a Índia. Casada com o oficial da marinha britânica Thomas Graham, acompanhava o marido em uma viagem de navio em direção ao Chile. Antes que pudessem chegar ao continente, o comandante Graham foi acometido de uma trágica febre que o levou à morte. Maria, atordoada com a viuvez precoce, acabou vivendo entre os chilenos durante um ano.

Em 1823, decidiu voltar à sua amada Inglaterra, mas quis o destino que seu navio fizesse uma parada no Rio de Janeiro. Nesta oportunidade, foi apresentada ao jovem Imperador Pedro I e sua família. Ficou acertado que a escritora seria a preceptora da Princesa Maria da Glória, filha do monarca e da Imperatriz Leopoldina.

A babá inglesa permaneceu em nosso país até 1826, ensinando a futura Rainha de Portugal (D. Pedro abdicou ao trono lusitano em seu favor após a morte de D. João VI) e tornando-se íntima da Imperatriz, com quem dividia uma enorme paixão pelas Ciências Naturais.

Graham nos deixou um delicioso relato de suas experiências durante este período, com grande destaque para as coisas da Natureza (Graham, M. 1990 [tradução do original de 1824]. Diário de uma viagem ao Brasil. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia. 423 p.). Sobre as frutas nativas da Mata Atlântica, anotou o seguinte: “(…) Jardim Botânico [do Rio de Janeiro], que parece estar em estado de conservação muito melhor do que quando o vi há dois anos. (…) Fiquei contente por ver muitas das plantas indígenas que haviam sido plantadas aqui: o cambucá, cujo fruto, tão grande como uma maçã russet, tem o gosto sub-ácido de groselha, com a qual sua polpa tem uma forte semelhança; a japatee-caba [jabuticaba], cujo fruto é um pouco inferior ao damasco (…)”. Aliás, a governanta dos filhos de D. Pedro I parece mesmo ter preferido o cambucá à jabuticaba, conforme escreveu acerca daquele fruto no dia 6 de agosto [de 1823]: “(…) juntei-me a um alegre grupo num passeio a cavalo a Copacabana, pequena fortaleza que defende uma das pequenas baías atrás da praia Vermelha e de onde se podem ver algumas das mais belas vistas daqui. As matas das vizinhanças são belíssimas e produzem grande quantidade de excelente fruta chamada cambucá (,,,)”.

Mas que frutos são esses, por muitos tidos como os mais saborosos da grandiosa Floresta Atlântica, tão comuns no Rio de Janeiro do início do século XX? Porque não são mais quase vistos hoje em dia? Será que são bons mesmo?

As respostas ficam para o próximo post, mas por enquanto o nobre cambucá acaba de ganhar dois novos súditos: o ativo observador de pássaros (e apaixonado por plantas) Haroldo Júnior e sua esposa, que tiveram o prazer de degustá-lo no E-jardim durante o último final-de-semana.

(fotos e texto informativo sobre o cambucá: http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=71)

quarta-feira, 4 de junho de 2008

O araçá-pêra (3)


Atendendo a um pedido da internauta Carminha, estou postando uma foto da árvore do araçá-pêra. O exemplar ilustrado tem cerca de seis anos de idade, mede aproximadamente 2,5 m de altura, e descende das sementes enviadas pela Profa. Martha Falcão. Adaptou-se perfeitamente ao clima da região sudeste, onde frutifica com fartura.

domingo, 1 de junho de 2008

O araçá-pêra (2)


Após ter recebido as preciosas sementes do araçá-pêra de Martha Falcão, plantei-as cuidadosamente. A germinação foi relativamente rápida, e as mudas desenvolveram-se bem em solo bem adubado e regado periodicamente. Em cerca de um ano plantei duas mudas no campo, que iniciaram a frutificação precocemente, aos três ou quatro anos de idade.

Psidium acutangulum é uma espécie muito difundida em toda a Bacia Amazônica, cultivada em pomares domésticos, ou mesmo na forma silvestre. Também ocorre nas Guianas e na Bacia do Rio Orinoco, na Venezuela. É freqüentemente comercializada nas feiras livres das cidades amazônicas, onde faz muito sucesso.

A árvore é relativamente pequena (3-4 m em cultivo), de copa colunar, dotada de uma folhagem densa e muito bonita. Suas folhas medem de 10-14 cm de comprimento por 4-6 cm de largura, e apresentam as nervuras bastante impressas na face superior. As flores são abundantes, relativamente grandes (1,5- 2,0 cm), brancas e perfumadas.

A produtividade é bastante alta, ocorrendo durante quase todo o ano, mas com maior abundância nos meses mais chuvosos. Uma planta adulta chega a produzir mais de 50 kg de fruta por safra!

O fruto, na variedade selecionada por Falcão, atinge quase 10 cm de diâmetro, e chega a pesar mais de 250 gramas. A polpa é branco-amarelada, profundamente perfumada. Chega a apresentar quase 400 mg de vitamina C por 100 g de massa, entre outros nutrientes. O sabor é ácido, o que lhe confere grande vantagem sobre sua prima goiaba (Psidium guajava), pois é imune ao ataque da mosca-dos-frutos, que prefere espécies mais doces. Desta forma, torna-se ideal para o preparo de sucos, doces, geléias e iogurtes.

E que iogurte! O araçá-pêra assim preparado adquire uma textura cremosa, leve e muito aromática, agradando aos mais exigentes paladares. Preparei ontem, no café-da-manhã, uma receita que divido com os internautas:

- 1 araçá-pêra grande (200 g), suficientemente maduro (macio ao toque)
- 1 copo de iogurte natural
- 1 copo de leite
- açúcar ou adoçante a gosto

Descasque o araçá, corte-o em pedaços, e bata todos os ingredientes no
liquidificador. Em seguida coe em uma peneira, e sirva em taças ou copos. Huuummm....

P.S. Vejam mais fotos e muita informação sobre o araçá-pêra em nosso site: http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=20