sábado, 18 de agosto de 2012

Saboreando o keppel

No post de hoje narramos nosso primeiro contato com os frutos maduros do lendário "keppel apple" 















No dia 29/01/2009 publiquei neste blog um relato sobre uma das mais curiosas frutas que existem, cobiçada por 10 entre 10 colecionadores de frutas de todo o mundo ("A extraordinária história do keppel"). Vale a pena conferir e relembrar a crônica!

Há poucos dias atrás, travei meu primeiro contato com os frutos de Stelechocarpus burahol.  A árvore da foto que abre estas linhas mede pouco mais de 10 metros de altura, possuindo uma copa colunar e bastante densa. Seus galhos são pêndulos, e a forma geral da planta muito me lembrou a de outra anonácea do velho mundo, Polyalthia longifolia, conhecida entre os paisagistas brasileiros como "árvore-mastro". Antes da inserção dos primeiros galhos, o tronco floresce e frutifica intensamente, tal qual mostrado na imagem.

Conforme escrevi anteriormente, os frutos se assemelham externamente a sapotis-arredondados, sendo porém amarelo-alaranjados em seu interior. A saborosa polpa é totalmente desprovida de fibras ou granulosidade, tornando-se cada vez mais macia e doce em direção ao centro do fruto, onde se alojam as sementes. Não percebi nenhum aroma marcante, mas o agradável sabor remeteu-me imediatamente ao do doce português conhecido como "ovos moles de Aveiro". Um paladar absolutamente inusitado para uma anonácea, família botânica que inclui a fruta-de-conde (ou pinha), a graviola, o biribá e os araticuns.

Fecho o post com uma visão mais detalhada dos frutos, incluindo um deles parcialmente cortado e exibindo a coloração interna.














No centro da foto, o keppel parcialmente cortado revela a coloração da polpa

Mais informações e mudas em:

http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=468 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Frutificando a ameixa-da-austrália no Brasil

Documentamos no post de hoje a primeira frutificação da ameixa-da-austrália (Davidsonia pruriens) em solo brasileiro. Acompanhe a narrativa.

Desde que foi descoberta, na segunda metade do século XIX, a linda fruta que estampa estas linhas vem sendo entusiasticamente cultivada em todo o mundo tropical, seja por seus frutos comestíveis, seja por sua beleza como planta ornamental. Curiosamente, sua introdução no Brasil deu-se apenas na primeira década dos anos 2000, porém até o momento sem registro de frutificação. O texto de hoje vem preencher esta lacuna.

Em 1867, o botânico alemão Ferdinand von Mueller apresentou ao mundo científico uma nova "ameixa" nativa de Queensland, no nordeste da Austrália, descoberta pouco tempo antes por John Ewen Davidson, inglês de múltiplos talentos e pioneiro da indústria açucareira naquele país [Mueller, F.J.H. 1867.
Fragmenta Phytographiae Australiae 6: 4.]. Davidson havia desembarcado em Sydney dois anos antes, na flor de seus 24 anos de idade. Além de atividades empresariais, o britânico ainda encontrou tempo para explorações científicas na área de botânica e etnografia. Foi desta forma que entrou em contato com a "ooray", nome pelo qual a fruta é conhecida entre os aborígenes. Mueller batizou-a de Davidsonia pruriens, homenageando o primeiro europeu a perceber sua existência.

Ao contrário do que possa parecer, a ameixa-da-austrália não possui qualquer parentesco com a ameixa-européia (Prunus domestica), da família Rosaceae. A semelhança muito acentuada entre os dois frutos pode ser atribuída a uma mera coincidência, ou quem sabe à convergência adaptativa. O fato é que D. pruriens pertence à família Cunoniaceae, de distribuição pantropical mas com apenas dois gêneros nativos do Brasil (Lamanonia e Weinmannia), ambos sem importância horticultural.

Na Natureza, nosso tema de hoje cresce em uma área bem extensa, na floresta tropical litorânea de Queensland, desde o nível do mar até altitudes de 1000 m. Tal versatilidade explica sua enorme facilidade de cultivo e adaptação nas mais diversas regiões brasileiras: clientes do E-jardim (www.e-jardim.com) vêm nos relatando ótimas adaptações em estados de climas tão diversos como Alagoas e Santa Catarina! Não restam dúvidas de que também possa ser cultivada em municípios sujeitos a geadas, haja vista que em cidades de clima análogo na Califórnia (EUA) ela se ambientou perfeitamente.

Muitos são os relatos e recomendações desta espécie como frutífera e como planta ornamental. Um dos mais antigos é o trabalho de Bailey
[Bailey, F.M. 1895. Edible fruits indigenous to Queensland. No. 1. Davidsonian Plum. Queensland Agric. 2: 471]. Para quem prefirir publicações mais modernas, recomendo um guia australiano [Low, T. 1991. Wild food plants of Australia. Sydney, Angus & Robertson. 240 p.] e o livro do guru da fruticultura orgânica, Sadhu Govardham [Govardham, S. 2007. Oro Verde, securing the future of our food. Puerto Rico, Antillian University Press. 309 p.].

Aqui no E-jardim, D. pruriens apresentou uma excelente adaptação e crescimento espantoso. Uma muda levada ao campo em 2008 acaba de frutificar pela primeira vez (veja a foto), logo após a primeira floração. Ela está plantada próxima a um córrego, em terreno bem drenado e recebendo luminosidade solar a maior parte do dia. Periodicamente, aplicamos uma adubação de crescimento e de frutificação. A cor intensamente vermelha da polpa, que contrasta dramaticamente com o negro-azulado da finíssima casca muito nos surpreenderam. As sementes são minúsculas, apenas duas por fruto, proporcionando um rendimento fantástico de polpa.

O sabor ácido mas sem nenhuma adstringência, embora não a promova como fruta de mesa, em muito a qualifica como ingrediente nobre para o preparo de doces, geléias e chutneys. Em seu país de origem já existem plantações comerciais e processamento industrial, visando o mercado de alta gastronomia. Evidentemente, trata-se de uma boa oportunidade de negócio, ainda inexplorada no Brasil. Verifique o site (e os altos preços atingidos!):

http://www.outbackchef.com.au/shopping/davidson/102/1

Outra combinação muito interessante é a do doce em pasta com queijo camembert. Leia em:

http://www.abc.net.au/tv/cookandchef/txt/s2625373.htm

Mudas médias e grandes da ameixa-da-austrália podem ser encontradas em nosso site:

http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=34

Forte abraço!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Mudas de keppel disponíveis!


Em um post antigo (29 de janeiro de 2009), narramos a epopeia do keppel (Stelechocarpus burahol), lendária fruta asiática, que vinha a ser a fruta favorita entre as mulheres do harém do Sultão de Yogyakarta. Estamos, finalmente, disponibilizando um número muito limitado de mudas desta espécie, além de outras bastante raras e especiais. Consulte nosso site, www.e-jardim.com, para orçamentos, ou diretamente através do e-mail de contato (e-jardim.com).

Eis a lista de novidades:

- Cordia taguayensis (córdia-anã-de-flores-brancas)
- Cenostigma tocantinum (cássia-negra)
- Diospyros cauliflora (caqui-jabuticaba)
- Eucalyptus deglupta (eucalipto-de-tronco-arco-íris)
- Eugenia reinwardtiana (cereja-da-austrália)
- Eugenia sp. nv. (pitanga-feijoa)
- Lecythis pisonis (sapucaia-vermelha)
- Magnolia ovata (magnólia-nativa)
- Monodora myristica (iobó)
- Murraya koenigii (curry leaf)
- Pappea capensis (lichia-vermelha)
- Sandoricum koetjape (santol)
- Sideroxylon obtusifolium (sapotiaba)
- Stelechocarpus burahol (keppel)
- Symphonia globulifera (ananim)
- Zygia latifolia (ingá-sangue-de-flores-brancas)
- Zygia sanguinea (ingá-sangue)

Abraço!

domingo, 5 de dezembro de 2010

Um ingá extraordinário, dádiva da Mata Atlântica

Inga congesta, restrita a enclaves na Mata Atlântica, é recomendada para vasos devido a seu pequeno porte













Os botânicos se valem de nomes estranhos para descreverem a beleza dos vegetais. Um destes termos é "bulado(a)", que adjetiva folhas especiais, intrigantes e fascinantes. Para nos socorrer nessas ocasiões, felizmente existe o livro "Morfologia Vegetal", de Gonçalves e Lorenzi, que é um verdadeiro dicionário ilustrado de "botaniquês" [Gonçalves, E.G. & H. Lorenzi. 2007. Morfologia vegetal, organografia e dicionário ilustrado de morfologia das plantas vasculares. Nova Odessa, Instituto Plantarum de Estudos da Flora. 448 p.], e se encontra à venda no site da Editora Plantarum, http://www.plantarum.com.br/.
Na página 119 da referida obra, encontramos a seguinte definição para o epíteto: "folhas ou outras estruturas laminares com processos similares a bolhas de ar em sua superfície." Em outras palavras, um fenômeno raro no Reino Vegetal, que transmite textura e aparência muito diferentes a raras espécies. A imagem que abre estas linhas bem demonstra o fato e ilustra um exemplar de Inga congesta, tema de nosso post de hoje. Clique nela para ampliá-la e ver os detalhes.
Nossa história se inicia na primeira metade do século XIX, época em que o Brasil finalmente abria suas fronteiras à exploração científica. Dentre uma leva de botânicos europeus que desbravaram pindorama, focalizamos um escocês de apenas 24 anos, que aqui chegou em 1836. Chamava-se George Gardner e percorreu as regiões mais inóspitas de nosso país durante cinco anos consecutivos.
O jovem bretão empreendeu uma tarefa hercúlea, coletando mais de 60.000 amostras botânicas (exsicatas) e até mesmo exemplares vivos para o Jardim Botânico de Kew, na Inglaterra. Deixou-nos um relato minucioso e preciso acerca de suas andanças por estes sertões (Rio de Janeiro, onde passou dois anos; e mais tarde Bahia, Pernambuco, Ceará, Piauí, Goiás e Minas Gerais), publicado em 1846 e posteriormente traduzido para o português
[Gardner, G. 1975. (tradução do original de 1846). Viagem ao interior do Brasil. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia. 260 p.].
Entre as localidades visitadas por Gardner estava a remota baía de Jurujuba, local histórico no atual Município de Niterói (RJ), palco de uma batalha épica entre portugueses e franceses, no século XVI. Nas florestas encravadas na colina rochosa voltada para o mar, o intrépido escocês colheu amostras de uma bela fabácea arbustiva, dotada de flores grandes e vistosas, além de um fruto-legume amarelo e piloso, contendo em seu interior uma polpa branca e muito doce, que se destaca facilmente das sementes.
As exsicatas repousaram nas gavetas de um herbário britânico até o ano de 1846, quando a espécie foi descrita pelo sistemata George Bentham, no London Journal of Botany. Ele a incluiu no gênero Affonsea, batizando-a justamente de A. bullata, em alusão à característica mais evidente da planta, conforme referido no início destas linhas.
Finalmente, no final dos anos 1990, o Dr. Terry Pennington sinonimizou os gêneros Affonsea e Inga, o último prevalecendo por ser mais antigo. O ingá-de-folhas-buladas passaria a se chamar Inga bullata, mas tal não ocorreu porque já havia um outro táxon, absolutamente distinto, com o mesmo nome. Para evitar a homonímia, o biólogo contemporâneo criou um nomen novum, a saber: Inga congesta.
De fato, o ingazeiro estudado por Pennington é uma planta extraordinária. A começar por seu porte, arbustivo ou por vezes escandente, características que possibilitam sua utilização como planta de vaso ou mesmo semi-trepadeira. Suas flores são enormes e creme-amareladas, muito vistosas e atrativas para beija flores (ver a segunda foto). As folhas possuem proeminências muito marcadas na face superior (buladas), e a folhagem jovem é marrom-avermelhada, muito decorativa em contraste com as folhas maduras verde-escuras (primeira foto).
Por todos esses predicados, impressionou-nos nunca ter sido introduzido em cultivo. Durante alguns anos o procuramos em vão, até finalmente localizarmos uma matriz, no que restou da floresta original perto da localidade típica. Tivemos o prazer de degustar os frutos relativamente grandes (10-12 cm de comprimento), com a casca amarelo-alaranjada e recoberta de uma leve pubescência. Além da oportunidade de guardar algumas sementes e produzir poucas mudas, que atualmente encontram-se em fase de crescimento.
Forte abraço!

Mais informações e mudas em:
http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=362

sábado, 30 de outubro de 2010

Mudas de palillo disponíveis!

No post do dia 24 de julho, apresentamos imagens dos primeiros palillos (Campomanesia lineatifolia), deliciosa fruta amazônica, produzidos na Região Sudeste do Brasil.

Na ocasião, mencionamos a possibilidade de futuramente ofertar mudas da espécie, pois na época iniciamos a produção das mesmas.

Temos agora a satisfação de poder oferecê-las ao público:

http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=140

Forte abraço!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Para atrair pássaros: corozo, a palmeira dos frutos rubros

Apesar de jovem, o exemplar de Aiphanes aculeata exibido na foto ao lado já frutifica com fartura.














Recentemente, o amigo Acácio Rodrigues Alves (Recife-PE) chamou-me a atenção para uma foto de beleza ímpar publicada no Portal WikiAves - A Enciclopédia das Aves do Brasil, genial criação do mineiro Reinaldo Guedes:

http://www.wikiaves.com/foto.php?lang=pt-br&f=32386

A deliciosa imagem mostra um par de saíras-sete-cores (Tangara seledon) refestelando-se com os saborosos e nutritivos frutos rubros da palmeira corozo (Aiphanes aculeata). O fotógrafo que capturou o raro momento foi o carioca João Quental, utilizando uma câmera Nikon D300. Parabéns!

O corozo é uma palmeira originária da Amazônia Ocidental, de rápido crescimento e fácil cultivo. De fato, é muito utilizada em paisagismo, pois tanto sua forma elegante quanto seus frutos vermelhos e vistosos causam impacto. Entretanto, nem todos sabem o quão atrativos para os passarinhos são aqueles pequenos cocos recobertos de polpa riquíssima em vitamina A. Compare o tamanho dos mesmos com o das saíras: são quase do tamanho das suas cabeças, algo como o equivalente a uma jaca (Artocarpus heterophyllus) para um ser humano. Sim, o que pode nos parecer apenas uma frutinha, para um pássaro pode ser uma farta refeição!

Como já escrevemos antes neste espaço, são muitos os observadores de aves que nos procuram questionando o que plantar para atrair determinadas espécies. Entre as palmeiras, não temos dúvidas em indicar com fervor Aiphanes aculeata.

Mudas, fotos e mais informações em:

www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=1

Forte abraço!

sábado, 24 de julho de 2010

Cultivando o palillo, uma história de sucesso

Temos o prazer de apresentar a nossos leitores os primeiros palillos (Campomanesia lineatifolia) frutificados na Região Sudeste do Brasil, aqui no E-jardim.











Desde antes da era colonial, uma deliciosa fruta silvestre já era cultivada na Amazônia Peruana. Segundo os botânicos espanhóis José Antonio Pavón e Hipólito Ruiz, que viajaram por Peru e Chile entre 1779 e 1788, ela era conhecida como palillo e muito estimada localmente. Aos interessados em maiores detalhes, recomendo a leitura online da narrativa dos referidos exploradores: http://www.archive.org/details/travelsofruizpavfiruiz (pág. 202).
Em trabalho posterior [Ruiz, H. & J. A. Pavón. 1798. Systema Veget.: 128], os autores descreveram-na formalmente, criando o epíteto de Campomanesia lineatifolia. A mesma espécie, colhida na Colômbia (em 1823) e no Brasil (entre Coari e Tefé, em 1829), chegou a receber outros nomes (respectivamente, Campomanesia cornifolia e Psidium rivulare), que acabaram caindo em sinonímia.

Existem pouquíssimos registros de coleta do palillo em nosso país. Referem-se quase todos à Amazônia Ocidental, especificamente as cidades de Tefé, Coari e São Paulo de Olivença, todas no Estado do Amazonas. Em cultivo, há um relato de Paulo Cavalcante para o povado de Benfica, no Pará, além do Museu Goeldi em Belém [Cavalcante, P. 1996. Frutas Comestíveis da Amazônia. Belém, Museu Parense Emílio Goeldi: 113].

Tempos atrás, oferecíamos em nosso site (http://www.e-jardim.com/) mudas desta interessante fruta, descendentes de uma árvore ímpar, curiosamente cultivada na cidade de Porto Alegre (RS). O inusitado deveu-se à "teimosia" de um Padre, que trouxera sementes da Amazônia, muitos anos antes. Apesar de toda a diferença climática, houve uma adaptação perfeita, e produção constante de frutos, com tamanho máximo de 5 cm de diâmetro. Infelizmente, as mudas que produzimos foram poucas, e se esgotaram rapidamente.

Nossa experiência com o cultivo de Campomanesia lineatifolia data do ano de 2002. Foi quando plantamos duas mudas descendentes das sementes colhidas por Harri Lorenzi (Instituto Plantarum) na Amazônia. As plantas desenvolveram-se rapidamente aqui no E-jardim, apresentando uma taxa de crescimento bastante elevada. Contudo, apesar de frequentes adubações, nenhum dos dois exemplares sequer floresceu até recentemente.

Foi quando ficamos muito surpresos (e satisfeitos!) ao verificar uma bela carga de frutos nos dois exempares cultivados. Melhor ainda, os palillos apresentavam um tamanho bem maior que os de Porto Alegre, chegando a 7-8 cm de diâmetro (ver foto que ilustra este post).

O sabor merece os mais altos elogios, rivalizando com Campomanesia laurifolia, até então a guabiroba de melhor sabor em nossa opinião. Porém, o rendimento em porcentagem de polpa da espécie amazônica é muito maior, fato que a recomenda com louvor para o cultivo comercial.

Esperarmos, brevemente, poder novamente ofertar mudas desta verdadeira dádiva da Floresta Amazônica.

Forte abraço!