Baccaurea ramiflora, sensacional fruta vietnamita descoberta por um jesuíta português no século XVIII |
Portugal foi o primeiro país europeu a erguer um império colonial moderno, espalhado por cinco continentes. Neste vasto território, eram cultivadas deliciosas frutas tropicais, algumas das quais foram transplantadas com sucesso para os domínios lusitanos na América. A jaca (Artocarpus heterophyllus) e a manga (Mangifera indica) da Índia, o jambo-roxo (Syzygium malaccense) e a carambola (Averrhoa carambola) de Malaca (atualmente um estado da Malásia), a fruta-pão (Artocarpus altilis) da Micronésia, a laranja (Citrus sinensis) e a lichia (Litchi chinensis) da China são apenas alguns destes exemplos. Entretanto, várias preciosidades se perderam no decorrer dos séculos, ou permanecem ainda desconhecidas no Brasil. Nosso post de hoje aborda uma delas.
O mundo deve ao Padre João de Loureiro (1710-1791), missionário jesuíta, médico e botânico por vocação, a descrição científica da curiosa planta que ilustra este texto. Loureiro serviu em Goa na Índia por três anos e em Macau na China por quatro. Seu destino seguinte foi a Cochinchina, correspondente à região sul da atual República do Vietnã, onde permaneceu por 35 anos. Pesquisou intensamente as espécies silvestres e as cultivadas na área, herborizando milhares de amostras botânicas (exsicatas). Em 1778, ao retornar a Lisboa, iniciou a preparação de uma monumental obra chamada "Flora Cochinchinensis", que foi finalmente publicada doze anos mais tarde.
Foi neste trabalho, precisamente às páginas 641 e 661, que o autor criou o epíteto Baccaurea, cujo significado explicou ser "baccâ aurei coloris" (baga cor de ouro). O adjetivo faz jus à bela coloração externa dos frutos maduros, conforme pode ser visto nas fotos. Loureiro ainda acrescentou a informação de que a primeira espécie por ele descrita, B. ramiflora, era vista com frequência em pomares cochinchinenses.
Há cerca de 20 dias, tive um primeiro contato com as tais "bagas de ouro", também chamadas de mafai, tampoi ou uva-birmanesa. O mafaizeiro é uma árvore de porte médio, dioica (isto é, com flores masculinas e femininas em indivíduos distintos), de frutificação muito abundante. Os frutos medem cerca de 3-4 cm de diâmetro, e podem ser ovalados ou quase esféricos. Apresentam-se dispostos em longos racemos pendentes, formando um atraente conjunto. A casca é fina, dourada, e se rompe facilmente quando pressionada entre os dedos. A polpa é branca (por vezes rosada em algumas cultivares) e suculenta, de sabor agridoce e textura muito agradáveis. As sementes são pouco numerosas e achatadas como um pequeno disco. Realmente seu sabor lembra o de certas castas de uva (Vitis vinifera), justificando uma de suas designações vulgares. São muito apreciados pelas pessoas, e comercializados em feiras-livres em diversas partes do mundo tropical.
Frutos recém-colhidos, e prontos para a comercialização |
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Forte abraço!
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