Herrania mariae (cacau-jacaré) em plena floração foi escolhida como capa do Guia Botânico do Museu Goeldi (Belém-PA) |
Logo que tive em mãos um exemplar do catálogo das plantas cultivadas no Museu Goeldi (Belém-PA) [Cavalcante, P.B. 1979. Guia Botânico do Museu Goeldi. Belém, MPEG Ed. 64 p.], fiquei fascinado pela plasticidade da imagem que ilustra a capa. Fotografado por Augusto Jarthes, o deslumbrante exemplar de Herrania mariae (conhecido popularmente como cacau-jacaré) chamava a atenção de qualquer pessoa. A pergunta não calava: como uma planta cauliflora, dotada de flores tão formosas e coloridas, e com um fruto de formato único e ainda por cima delicioso, poderia ser um completo desconhecido do público brasileiro? Estávamos no final dos anos 1990, iniciando o sítio E-jardim, e começava ali a trajetória contada no post de hoje...
Todavia, precisamos voltar cerca de 60 anos no tempo, precisamente ao ano de 1941, em plena Segunda Guerra Mundial. Então com apenas 26 anos de idade, o botânico americano Richard Evans Schultes iniciava sua primeira de muitas viagens à Amazônia. Ele tornar-se-ia mundialmente famoso por seus estudos sobre o uso de plantas silvestres, principalmente alucinógenas, por populações indígenas. Seu livro mais famoso [Schultes, R.E. & A. Hofmann. 1979. The Plants of the Gods: their Sacred, Healing and Hallucinogenic Powers. New York, McGraw-Hill. 192 p.] se tornou um best-seller mundial, sendo repetidamente reeditado até os dias de hoje. Schultes é reconhecido como o "pai da etnobotânica", a ciência que estuda a aplicação dos conhecimentos botânicos de um determinado povo.
Na época da Grande Guerra, os EUA procuravam desesperadamente uma alternativa para a dependência das plantações de borracha no Sudeste Asiático, pois estas encontravam-se sob controle do inimigo japonês. As tentativas de estabelecer lavouras nas Américas Central e do Sul, notadamente no Brasil onde foi criada a "Fordlândia", haviam resultado em retumbante fracasso. Desta forma, o jovem Schultes, pesquisador da Universidade de Harvard, foi enviado às selvas amazônicas para reunir sementes de serigueiras (Hevea spp.) resistentes às pragas.
Foi justamente no decorrer desta jornada que o americano teve seu primeiro contato com uma espécie não-descrita de Herrania na Colômbia. Foi paixão à primeira vista, que foi crescendo conforme Richard se engajava em coletas cada vez mais frequentes na hileia sul-americana. O contato com espécimens vivos, ao invés de unicamente com os exemplares desidratados dos herbários, culminou em amor verdadeiro com a publicação do mais completo estudo sobre estas plantas conhecido até hoje [Schultes, R.E. 1958. A synopsis of the genus Herrania. Journal of the Arnold Arboretum, 39(3): 216-278].
No próximo post, detalharemos as diferentes espécies de cacau-jacaré e seu cultivo.
Até breve!
Todavia, precisamos voltar cerca de 60 anos no tempo, precisamente ao ano de 1941, em plena Segunda Guerra Mundial. Então com apenas 26 anos de idade, o botânico americano Richard Evans Schultes iniciava sua primeira de muitas viagens à Amazônia. Ele tornar-se-ia mundialmente famoso por seus estudos sobre o uso de plantas silvestres, principalmente alucinógenas, por populações indígenas. Seu livro mais famoso [Schultes, R.E. & A. Hofmann. 1979. The Plants of the Gods: their Sacred, Healing and Hallucinogenic Powers. New York, McGraw-Hill. 192 p.] se tornou um best-seller mundial, sendo repetidamente reeditado até os dias de hoje. Schultes é reconhecido como o "pai da etnobotânica", a ciência que estuda a aplicação dos conhecimentos botânicos de um determinado povo.
Na época da Grande Guerra, os EUA procuravam desesperadamente uma alternativa para a dependência das plantações de borracha no Sudeste Asiático, pois estas encontravam-se sob controle do inimigo japonês. As tentativas de estabelecer lavouras nas Américas Central e do Sul, notadamente no Brasil onde foi criada a "Fordlândia", haviam resultado em retumbante fracasso. Desta forma, o jovem Schultes, pesquisador da Universidade de Harvard, foi enviado às selvas amazônicas para reunir sementes de serigueiras (Hevea spp.) resistentes às pragas.
Foi justamente no decorrer desta jornada que o americano teve seu primeiro contato com uma espécie não-descrita de Herrania na Colômbia. Foi paixão à primeira vista, que foi crescendo conforme Richard se engajava em coletas cada vez mais frequentes na hileia sul-americana. O contato com espécimens vivos, ao invés de unicamente com os exemplares desidratados dos herbários, culminou em amor verdadeiro com a publicação do mais completo estudo sobre estas plantas conhecido até hoje [Schultes, R.E. 1958. A synopsis of the genus Herrania. Journal of the Arnold Arboretum, 39(3): 216-278].
No próximo post, detalharemos as diferentes espécies de cacau-jacaré e seu cultivo.
Até breve!
2 comentários:
Olá Eduardo, cheguei por acaso aqui ao seu blog.
Também me interesso bastante por etnobotânica e gostei dessa história. Infelizmente, nunca fui ao Pará. Bom, lendo o texto, quis te convidar para dois textos do meu site, um mais genérico e de opinião sobre jardins botânicos, outro sobre o jardim etnobotânico de Oaxaca. Vou colocar os links aqui: http://bit.ly/Yw00EZ, http://j.mp/11omtWc
Se quiseres passar lá, seria legal trocar uma idéia.
Abraço e sucesso com o blog,
Fred
Sensacional!!!
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