domingo, 7 de setembro de 2008
A sapota-do-solimões (Quararibea cordata)
O título de hoje parece sugerir um fruto da saborosa família das sapotáceas, que inclui os dulcíssimos sapoti (Manilkara zapota) e abiu (Pouteria caimito). Engana-se quem se deixa levar pela nomenclatura popular. A sapota-do-solimões é parente das coloridas paineiras (Ceiba spp.), dos ornamentais Hibiscus e do célebre cacau (Theobroma cacao), todos pertencentes à família das malváceas.
A sapota-do-solimões possui formato globoso (ca. 12 cm de diâmetro), casca marrom-esverdeada e com textura de couro (coriácea), que encerra uma polpa amarelo-alaranjada, suculenta e abundante, algo fibrosa (como a da manga). Seu sabor é simplesmente delicioso, doce e delicado. Pode ser comparado a uma mistura de manga com melão-cantaloupe. O número de sementes é pequeno, variando de duas a cinco por fruto.
É muito popular no oeste da Amazônia, a partir da cidade brasileira de Tefé até a região fronteiriça com o Peru e a Bolívia. Nesta área aparece com freqüência nas feiras livres, colhida na mata virgem, ou mesmo em quintais domésticos, onde é cultivada.
Praticamente desconhecida dos fruticultores brasileiros fora da região amazônica, a Quararibea cordata foi introduzida no sul dos EUA (Flórida) em 1964. O autor da proeza foi William Francis Whitman (1914-2007), mais conhecido como Bill Whitman.
Bill foi um americano de grande espírito empreendedor, tendo sido pioneiro em áreas tão diversas como surfe, filmagem subaquática e construção de shoppings centers. Mas sua grande paixão acabou sendo o cultivo de frutas tropicais. Ele conta em seu ótimo livro [Whitman, W. F. 2001. Five Decades with Tropical Fruit, a Personal Journey. Englewood, Quisqualis Books. 476 p.] que “apaixonou-se” em 1947 pela fruta-pão (Artocarpus altilis) durante uma viagem ao Taiti. A partir de então, começou a organizar uma fantástica coleção das mais deliciosas frutas de climas quentes vindas de todos os cantos do planeta.
Paralelamente, fundou em Miami uma associação de pessoas que compartilhavam o mesmo interesse, denominada “Rare Fruit Council International” (Conselho Internacional de Frutas Raras). Já no final da vida, Whitman fez uma vultosa doação ao Fairchild Tropical Garden, para a construção de uma sofisticada estufa para cultivo de clones das frutas de sua coleção (http://www.fairchildgarden.org/index.cfm?section=livingcollections&subsection=tropicalfruitprogram&page=whitmantropicalfruitpavilion).
Mas voltemos ao nosso tema de hoje. Bill importou o “South American sapote” da cidade de Iquitos, na Amazônia peruana. Distribuiu a espécie a vários membros do RFCI, obtendo finalmente sua frutificação em 1973. Inicialmente de produção tímida (apenas oito frutos), a carga aumentou consideravelmente nos anos subseqüentes, chegando a mais de 60 unidades por árvore. A capa de seu livro estampa justamente esta uma dessas colheitas (ver foto).
Em meados da década de 1990, tive o prazer de me corresponder com Whitman. Apesar de não tê-lo conhecido pessoalmente, amigos em comum trouxeram-me duas mudas suas de Q. cordata. Passei a cultivá-las com carinho, ministrando sombra (através do uso de tela sombreadora) e adubação equilibrada (principalmente orgânica).
As árvores desenvolveram-se muito bem no clima da Região Sudeste, apresentando maior crescimento após a remoção da cobertura sombreadora. Anualmente, aplico composto orgânico, enriquecido com fósforo e microelementos. Hoje, uma delas mede cerca de 3 m de altura, enquanto que a segunda ficou com menos de 2 m, por termos propositalmente removido seu ápice (uma técnica muito utilizada por fruticultores para reduzir o porte de algumas fruteiras). São plantas muito ornamentais, pelas imensas (40-50 cm) folhas em forma de coração (cordiformes) e pela copa simétrica, arredondada.
Qual não foi minha surpresa, dias atrás, quando aos sete anos de idade uma das sapoteiras-do-solimões aqui do E-jardim lançou uma bela carga de flores (ver a segunda foto que ilustra este texto). Divido a imagem com vocês, já torcendo para que se transformem em deliciosos frutos.
Forte abraço!
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12 comentários:
Boa sorte com a safra Eduardo. O Bill ficaria contentíssimo com a notícia.
Se a safra vingar, será "neta" do Bill. Por falar nele, como anda a antiga residência dele, com a coleção das fruteiras?
Ouvi falar que a casa vai ficar para um sobrinho dele que pretende manter a coleção.
É uma ótima notícia. Uma coleção como a que ele reuniu não deveria se perder.
É sempre bom aprender e conhecer uma nova fruta. Esse 'esporte' parece não ter fim... Graças a Deus, que semeou essas doçuras pela terra.
Uma pergunta: onde ficaria a maior coleção de fruteiras (tropicais e também em geral) do mundo?
Inseri o link de seu excelente blog no meu Azul Caudal (http://azulcaudal.blogspot.com).
Um fraterno abraço do Sammis
Muito obrigado pelo apoio, Sammis!
Aí está uma boa pergunta: onde ficaria a maior coleção de fruteiras do mundo.
Aqui no Brasil, conheço umas dez pessoas que dizem ter a maior do país, rsrsrs...
Abraços!
Oi, Eduardo!
Que ótimo blog. Vou voltar aqui muitas vezes. Também gosto de falar destas frutinhas. Várias delas já estão lá também.
Um abraço, Obrigada,
N
Oi Eduardo !!!
Conheci o seu site atraves do orkut.E como no ano que vem eu estarei ingressando no curso de paisagista, então estou me informando sobre todos os assuntos possiveis e cuidando de uma hortinha em casa já para sentir o cheirinho da terra...
E o sapoti...adoro !!!!
Pois morei em Salvador e lá tem muito!!!!!
Beijos e Parabens !
Neide: seu blog também é ótimo, e sou ávido leitor dele!
Bianca: convido-a a conhecer também nosso site, www.e-jardim.com, onde poderá conferir nosso viveiro e muitas das plantas que cultivamos.
Forte abraço!
Eduardo,
parabens pelo seu blog, venho acompanhando suas matérias há algum tempo. Tenho uma foto da Sapota se quiser ilustrar mais o texto. Estes frutos estavam a venda no Mercado Municipal de São Paulo. http://www.flickr.com/photos/andrebenedito/2432835102/in/set-72157603272215698/
Bela foto, André!
Obrigado pelo gentil oferecimento.
Bom dia que legal
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