sábado, 22 de novembro de 2008

As sapucaias do francês

O primeiro paisagista a utilizar espécies da flora brasileira em seus projetos foi o francês Auguste François Marie Glaziou, cuja obra muito admiro.

Nascido na cidade de Lannion, em 1833, logo graduou-se engenheiro civil. Ainda jovem, estudou botânica no Musée d'Histoire Naturelle de Paris. Foi quando, aos 25 anos, foi convidado por ninguém menos que o Imperador D. Pedro II para tornar-se diretor dos Parques e Jardins.

O monarca não poderia ter sido mais feliz em sua escolha. Glaziou permaneceu à frente do cargo até o ano de 1897, sobrevivendo até à Proclamação da República. Durante quase 40 anos emprestou seu enorme talento e impressionante capacidade de trabalho à nossa pátria. Percorreu extensas regiões, sempre coletando e herborizando milhares de espécimes que pudessem ser incluídos em seus projetos. Nessas andanças, descobriu centenas de novas espécies, muitas das quais levam seu nome, como por exemplo a deliciosa cabeludinha (Myrciaria glazioviana).

São de sua autoria os jardins do Palácio Imperial de Petrópolis, do Museu Mariano Procópio em Juiz de Fora, do Jardim da Aclimação em São Paulo, do Passeio Público e do Campo de Santana, ambos no Rio de Janeiro. Sem esquecer de sua mais requintada obra, a Quinta da Boa Vista, então residência oficial da Família Real.

Lá estão plantadas duas aléias paralelas da magnífica Lecythis pisonis, adornando a via que dá acesso ao próprio Palácio. Nos meses de setembro a outubro, a sapucaia-vermelha proporciona um espetáculo inesquecível, recobrindo-se de uma folhagem jovem róseo-avermelhada, praticamente simultânea com a floração. Melhor do que utilizar palavras na vã tentativa de descrever a cena é admirar a imagem que abre este post.

Essa é a única espécie do gênero Lecythis (sapucaia, que na linguagem tupi-guarani significa galinha, em alusão às castanhas dentro do fruto lenhoso arranjadas tais quais ovos em um ninho) que apresenta esse singular fenômeno.

Diziam-me que a sapucaia-vermelha levaria mais de dez anos, 15 a 20 talvez, para frutificar. Duvidando de tal assertiva, em 2001 colhi sementes diretamente das árvores plantadas por Glaziou na Quinta da Boa Vista. Plantei 20 mudas ladeando uma estrada aqui no E-jardim. Fiquei estarrecido quando, em novembro de 2004, apenas três anos após o plantio, uma das sapucaieiras produziu seu primeiro fruto. Hoje esta árvore frutifica fartamente, de tal forma que todas as mudas que produzimos sejam oriundas deste indivíduo precoce.

Vejam a bela foto do fruto lenhoso e sementes em nosso site:
http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=195

Forte abraço!


domingo, 16 de novembro de 2008

Apresentando... a inigualável ilama!


A família Annonaceae inclui cerca de 2.300 espécies em todo o mundo. Estima-se que cerca de 400 delas produzam frutos comestíveis, de formas e sabores muito variados. Este total está dividido entre 35 gêneros, dentre os quais Annona é, sem sombra de dúvida, o mais conhecido.

Nossos índios tupi-guaranis usavam a palavra “aratycu” (posteriormente adaptada para araticum em português) para designar essas iguarias. O termo significa "fruto macio" ou "fruto dos céus", segundo alguns autores.

O fato é que são frutas muitíssimo apreciadas por nossa população, com destaque para as conhecidas ata, fruta-de-conde ou pinha (Annona squamosa), graviola (A. muricata) e atemóia (A. cherimola x A. squamosa). No Brasil Central o marolo (A. crassiflora) reúne muitos fãs, e na Amazônia o destaque fica por conta do biribá (Rollinia mucosa).

Hoje vamos dedicar este espaço à mais saborosa anonácea que pode ser cultivada nas regiões tropicais, ao nível do mar: a ilama (Annona diversifolia).

Ainda praticamente desconhecida dos fruticultores brasileiros, esta maravilhosa fruteira é originária dos contrafortes das montanhas voltadas para o Oceano Pacífico de El Salvador, Guatemala e México. Nesta região, ela é plantada desde o nível do mar até 700 m de altitude.

O fruto mede cerca de 12 cm de diâmetro, e sua forma varia do quase esférico ao ovalado. Sua casca é resistente ao transporte, e possui uma bela tonalidade verde-azulada. A polpa apresenta um aroma característico e sabor doce, muito agradável. Há ilamas de coloração branca a vermelha, passando pelos tons intermediários, como as retratadas na foto acima.

A ilameira é uma arvoreta de 3-6 m, de copa aberta e geralmente ramificada desde a base. Possui folhas grandes, de formato obovado. Suas raízes são pivotantes, e permitem uma boa fixação mesmo em solos pedregosos. Não é nada exigente quanto à composição do substrato, mas não tolera encharcamento. Deve ser cultivada a sol pleno, em climas tropicais ou subtropicais. Na última condição perdem as folhas durante o inverno (a partir de mínimas de 7 Celsius). Climas ideais envolvem precipitações de 1400 a 2000 mm bem distribuídos durante a estação chuvosa, com período de estiagem bem definido.

Vejam mais fotos e leiam mais sobre a Annona diversifolia em nosso site:
http://www.e-jardim.com/produto_completo.asp?IDProduto=252

Forte abraço!

domingo, 2 de novembro de 2008

Eugenia rostrifolia, um show de cores em seu jardim

Alguns anos atrás, em uma viagem à Região Sul, deparei-me com um arbusto de cores estonteantes, cultivado em um jardim doméstico. Tratava-se de uma arvoreta de cerca de 1,5 m de altura, com folhas lanceoladas e copa densa, verde-clara.

Sobre a última, sobressaíam aqui e ali aglomerados de folhas jovens tingidos de uma maravilhosa tonalidade entre fúcsia e rosa-choque (ver foto).

Procurei logo saber que planta espetacular era aquela, inédita para mim. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que eu estava diante de uma mirtácea nativa de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, conhecida no mundo científico como Eugenia rostrifolia.

Em seu habitat natural, é chamada de "guapi", mas infelizmente tem sido muito perseguida por agricultores e madeireiros. A razão é a ótima qualidade de sua madeira, o que faz com que
exemplares ainda jovens sejam abatidos para fabricar timões de carroças e varais.

Suas folhas apresentam um formato muito característico, estreito e alongado, com um abrupto prolongamento na extremidade, que os botânicos chamam de "rostro" (veja a imagem que ilustra este texto). Daí seu nome latino.

Vale também dizer que seus frutos são esféricos, medindo 1,5-2 cm, de coloração vermelho-alaranjada. São saborosos e atraem muitos pássaros.

Apesar de alcançar grande porte nas matas, Eugenia rostrifolia pode ser mantida durante muitos anos como um mero arbusto em jardins, ou mesmo como planta de vaso.

Aqui no E-jardim, plantamos há três anos um exemplar, que vem se destacando pela beleza. Divido com os leitores a imagem capturada ontem pela manhã, logo após uma breve garoa.

Forte abraço!