O keppel (Stelechocarpus burahol) é uma fruta do tamanho de uma maçã, da família das Anonáceas (a mesma da fruta-de-conde, dos araticuns e da graviola), originária da ilha de Java, na Indonésia.
A árvore que o produz é belíssima, chegando a atingir mais de 20 m de altura em seu habitat natural. Suas enormes folhas, de até 30 cm de comprimento, possuem quando jovens uma coloração que passa por tons de carne, rosa-choque e vermelho-vinho (veja a primeira foto). A copa é piramidal e muito densa, lembrando de longe a de um jambeiro (Syzygium malaccense). Também muito decorativas são suas flores, as femininas com longo pedúnculo ("cabinho"), nascidas do tronco e muito perfumadas.
Os frutos assemelham-se externamente a um sapoti (Manilkara zapota) esférico, mas possuem polpa amarelo-alaranjada, macia, doce e aromática. Possui um leve sabor de coco-da-baía (Cocos nucifera), mas sua textura remete à do mamão (Carica papaya).
A fama do keppel no Ocidente adveio dos escritos de David Faichild, o grande explorador de plantas norte-americano, e que dá nome ao Fairchild Tropical Garden. (Fairchild, D. 1930. Exploring for plants. 591 p. New York, The Macmilian Company, págs. 429-432). Em Yogyakarta (nome atual de Djokjakarta), localizada em Java na Indonésia, o yankee encantou-se com a elegância e imponência da árvore. Ele nos revelou que a fruta era a grande favorita entre as mulheres do harém do Sultão. Os jardins do Taman Sari (Palácio das Águas), notável conjunto arquitetônico projetado pelos portugueses no século XVIII, e integrado ao Kraton (Palácio do Sultão), são arborizados com vários exemplares de Stelechocarpus burahol. Reza a lenda que as secreções de quem saborear esses frutos exalará um intenso aroma de violetas. Fairchild levou sementes em 1926 para os EUA, mas nenhuma das plantas delas oriundas sobreviveu em cultivo. Foi somente na década de 1970, que o colecionador de frutas Bill Whitman (vide post do dia 07/09/08) logrou cultivar e frutificar (!) o keppel na Flórida. Seu livro (Whitman, W. F. 2001. Five Decades with Tropical Fruit, a Personal Journey. 476 p. Englewood, Quisqualis Books, págs. 210-213) apresenta uma interessante narrativa sobre o tema, além de uma foto colorida e duas preto-e-brancas. No final do texto, há um pequeno quadro informando que o keppel de Bill pereceu, após estar enorme, devido a doenças fúngicas.
Aqui no E-jardim temos um lindo exemplar com pouco mais de dois metros de altura. Ele vem sendo cultivado a sol pleno e em terra rica em húmus, mantida sempre úmida, porém sem encharcamente. Na Natureza, esta espécie habita florestas tropicais ou seu entorno, e segundo trabalhos recentes, encontra-se ameaçada de extinção na Indonésia.
Foi com bastante alegria que conseguimos produzir algumas poucas mudas de keppel, após um longo período de germinação que durou de 12 a 18 meses.
Forte abraço!