quarta-feira, 28 de maio de 2008
Martha Falcão e o araçá-pêra
Sempre me interessei por frutas nativas, em especial as da Amazônia. Ia de biblioteca em biblioteca, pesquisando sobre o tema. Foi assim que cheguei a um trabalho sobre o mapati ou uva-da-amazônia (Pourouma cecropiifolia), publicado na revista Acta Amazonica (Falcão, M.A. & E. Lleras. 1980. Aspectos fenológicos, ecológicos e de produtividade do mapati [Pourouma cecropiifolia Mart.]. Acta Amazonica, 10(4): 711-724). O mapati é uma fruta de mesa absolutamente deliciosa, e durante muitos anos foi meu “sonho de consumo” como fruticultor.
Após muitas idas e vindas, acabei entrando em contato com a professora Martha de Aguiar Falcão, principal autora do referido estudo. Nascida em 1929 no Estado do Amazonas, e assistente social de origem, anos depois formou-se em química, com pós-graduação em botânica. Nessa época escreveu uma série de primorosos artigos sobre as frutas nativas de sua região. Lecionou durante mais de 50 anos, com tal dedicação que em 1972 foi nomeada diretora do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e, em 1992, professora da Ufam (Universidade Federal do Amazonas). Recebeu diversos títulos e medalhas por sua atuação, e foi personagem de alguns programas na tv, como por exemplo a campanha social do extinto Banco Bamerindus, “Gente que Faz”.
Suas ações não se limitaram à sala de aula, como ficou claro no “Projeto Frutífera", que se baseava na produção de espécies nativas da Região Norte, em parceria com seus alunos. As mudas eram depois distribuídas de caminhão às populações ribeirinhas - orientadas a plantá-las e a extrair dividendos de seu cultivo.
Na época em que a contactei, ela iniciava outra louvável ação social, uma creche para crianças carentes nos arredores de Manaus. Atualmente, apesar de aposentada pela Ufam, nossa heroína eco-social ainda divide suas horas de trabalho entre as crianças e como pesquisadora do Inpa.
Dona Martha foi bastante atenciosa comigo, explicando-me estar muito envolvida com a creche, e que infelizmente o mapati tornara-se uma árvore rara em Manaus. Por este motivo presenteou-me com seis sementes de uma de suas frutas favoritas, o araçá-pêra (Psidium acutangulum). Segundo Falcão, esta espécie ficaria deliciosa em sucos que combinariam os sabores da goiaba e da pêra-européia. O que aconteceu depois, contarei no post seguinte.
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